quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O vinho nos tempos do Novo Testamento - Parte 2.


“Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.” Jo 2.11

O vinho: Misturado ou Integral?

Os dados históricos sobre o preparo e o uso do vinho pelos judeus e por outras nações no mundo bíblico mostram que o vinha era: a) frequentemente não fermentado; b) em geral misturado com água e c) o embriagante. Aqui, encontramos dois processos de preparação da uva para posteriormente ser misturada com água.

1) Um dos métodos usados era desidratar as uvas, borrifá-las com azeite para mantê-las úmidas e guardá-las em jarras de cerâmica (Enciclopédia Bíblica Ilustrada de Zondervan, V.882, ver também estudo sobre Columella, Sobre a Agricultura 12.44.1-8). Em qualquer ocasião, podia-se fazer uma bebida muito doce de uvas assim conservadas. Punha-se-lhes água e deixava-as de molho na fervura. Políbio afirmou que as mulheres romanas podiam beber desse tipo de refresco de uva, mas que eram proibidas de beber vinho fermentado (ver Políbio, Fragmentos, 6.4; cf. Plínio, História Natural, 14.11.81).

2) Outro método era ferver suco de uva fresco até se tornar em pasta ou xarope grosso (mel de uvas); este processo deixava-o em condições de ser armazenado, ficando isento de qualquer propriedade inebriante por causa da alta concentração de açúcar, e conservava a sua doçura (ver Columella, Sobra a Agricultura, 12.19.1-6; 20.1-8; Plínio, História Natural, 14.11.80). Essa pasta ficava armazenada em jarras grandes ou odres. Podia ser usada como geléia para passar no pão, ou dissolvida em água para voltar ao estado de suco de uva (Enciclopédia Bíblica Ilustrada de Zondervan, V. 882-884). É provável que a uva fosse muito cultivada para a produção de açúcar. O suco extraído no lagar era engrossado pela fervura até tornar-se em líquido conhecido como “mel de uvas” (Enciclopédia Geral Internacional da Bíblia, V.3050). Referências ao mel na Bíblia frequentemente indicam o mel de uva (chamado debash pelos judeus), em vez do mel de abelhas.

3) A água, portanto, pode ser adicionada a uvas desidratadas, ao xarope de uvas e ao vinho fermentado. Autores gregos e romanos citavam várias proporções de mistura adotadas. Homero (Odisséia, IX 208ss) menciona uma proporção de vinte partes de água para uma parte de vinho. Plutarco (Symposíacas, III.ix) declara: “Chamamos vinho diluído, embora o maior componente seja a água”. Plínio (História Natural, XIV.6.54) menciona uma proporção de oito partes de água para uma de vinho.

4) Entre os judeus dos templos bíblicos, os costumes sociais e religiosos não permitiam o uso do vinho puro, fermentado ou não. O Talmude (uma obra judaica que trata das tradições do judaísmo entre 200 a.C. e 200 d.C.) fala, em vários trechos, da mistura de água com vinho (e.g., Shabbath 77ª; Pesahim 1086). Certos rabinos insistiam que, se o vinho fermentado não fosse misturado com três partes de água, não podia ser abençoado e contaminaria quem o bebesse. Outros rabinos exigiam dez partes de água no vinho fermentado para poder ser consumido.

5) Um texto interessante temos no livro de Apocalipse, quando um anjo, falando “do vinho da ira de Deus”, declara que ele será “não misturado”, isto é, totalmente puro (Ap 14.10). Foi assim expresso porque os leitores da época entendiam que as bebidas derivadas de uvas eram misturadas com água.

Em resumo, o tipo de vinho usado pelos judeus nos dias da Bíblia não era idêntico ao de hoje. Tratava-se de:
a) suco da uva recém-espremido;
b) suco de uva assim conservado;
c) suco obtido de uva tipo passas;
d) vinho de uva feito do seu xarope, misturado com água e
e) vinho velho, fermentado ou não, diluído em água, numa porção de até 20 para 1.

Se o vinho fermentado fosse servido não diluído, isso era considerado indelicadeza, contaminação e não podia ser abençoado pelos rabinos. À luz desses fatos, é ilícita a prática corrente ou não de ingestão de bebidas alcoólicas como base no uso do “vinho” pelos judeus nos tempos bíblicos. Além disso, os cristãos dos dias bíblicos eram mais cautelosos do que os judeus quanto ao uso do vinho (ver Rm 14.21; 1 Ts 5.6; 1 Tm 3.3. Tt 2.2)

A Glória de Jesus manifesta através do vinho.

Em João 2, vemos que Jesus transformou água em “vinho” nas bodas de Caná. Que tipo de vinho era esse? Conforme já vimos, podia ser fermentado ou não, concentrado ou diluído. A resposta deve ser determinada pelos fatos contextuais e pela probabilidade moral. A posição correta, é que Jesus fez vinho (oinos) suco de uva integral e sem fermentação. Os dados que se seguem apresentam fortes razões para rejeição da opinião de que Jesus fez vinho embriagante.

1) O objetivo primordial desse milagre foi manifestar a sua glória, de modo a despertar fé pessoal e a confiança em Jesus como o Filho de Deus, santo e justo, que veio salvar o seu povo do pecado. Sugerir que Cristo manifestou sua divindade como o Filho Unigênito do Pai, mediante a criação miraculosa de inúmeros litros de vinho embriagante para uma festa de bebedeiras (onde subtende-se que os convidados tinham bebido muito), e que tal milagre era extremamente importante para sua missão messiânica, requer um grau de desrespeito, e poucos se atreveriam a tanto. Será, porém, um testemunho da honra de Deus, e da honra e glória de Cristo, crer que Ele criou sobrenaturalmente o mesmo suco de uva que Deus produz anualmente através da ordem natural criada. Portanto, esse milagre destaca a soberania de Deus no mundo natural, tornando-se um símbolo de Cristo para transformar espiritualmente pecadores em filhos de Deus. Devido a esse milagre, vemos a glória de Cristo “como a glória do Unigênito do Pai”.

2) Contraria a revelação bíblica quanto a perfeita obediência de Cristo a seu Pai celestial supor que Ele desobedeceu ao mandamento moral do Pai: “Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho...e se escoa suavemente”, isto é, quando é fermentado (Pv 23.31). Cristo por certos sancionou os textos bíblico que condenam o vinho embriagante como escarnecedor e alvoroçoador (Pv 20.1), bem como as palavras de Hc 2.15: “Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro!...e o embebedas” (cf. Lv 10.8-11; Pv 31.4-7; Is 28.7; Rm 14.21).

3) Note ainda, o seguinte testemunho da medicina moderna.

a) Os maiores médicos especialistas atuais em defeitos congênitos citam evidências comprovadas de que o consumo moderado de álcool danifica o sistema reprodutivo das mulheres jovens, provocando abortos e nascimentos de bebês com defeitos metais e físicos incuráveis. Autoridades mundialmente conhecidas em embriologia precoce afirmar que as mulheres que bebem até mesmo quantidades moderadas de álcool, próximo ao tempo da concepção (48 horas), podem lesar os cromossomos de um óvulo em fase de liberação, e daí causar sérios distúrbios no desenvolvimento mental e físico do bebê.

b) Seria teologicamente absurdo afirmar que Jesus haja servido bebidas alcoólicas, contribuindo para o seu uso. Afirmar que Ele não sabia dos terríveis efeitos em potencial que as bebidas inebriantes têm sobre os nascituros é questionar sua divindade, sabedoria e discernimento entre o bem e o mal. Afirmar que Ele sabia dos danos em potencial e dos resultados deformadores do álcool, e que, mesmo assim, promoveu e fomentou seu uso, é lançar dúvidas sobre a sua bondade, compaixão e seu amor.

A única conclusão racional, bíblica e teológica acertada é que o vinho que Cristo fez nas bodas, a fim de manifestar a sua glória, foi o suco puro e doce de uva, e não fermentado.

"E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;" Ef 5.18

A declaração de Paulo em Ef 5.18 demonstra que a plenitude do Espírito Santo depende do modo como o crente corresponde à graça que lhe é dada para viver em santificação. Isto quer dizer que a pessoa não pode estar “embriagada com vinho” e, ao mesmo tempo, “cheia do Espírito”. Paulo adverte todos os crentes a respeito das obras da carne; que os que comentem tais coisas “não herdarão o reino de Deus”. Além disso, “os que cometem tais coisas” não terão a presença interior do Espírito Santo, nem a sua plenitude. Noutras palavras, não ter “o fruto do Espírito” é perder a plenitude do Espírito.

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