domingo, 24 de outubro de 2010

Um breve relato sobre os Dons Espirituais.


Um Assunto Evitado.


Infelizmente a Igreja de Jesus no Brasil e no mundo está dividida em denominações, que consequentemente divergem a respeito de vários pontos da doutrina Cristã. E entre um dos assuntos em que mais divergimos está o ensino dos dons. É lamentável que a divergência se expanda e resulte em intolerância muitas vezes. Algumas congregações chegam a impedir a manifestação de alguns dons como o dom de línguas, por exemplo. Fazem isso por desconhecimento ou medo de situações desastrosas. Mas se segregarmos algum dom, qualquer um que seja, podemos deixar de aprender e alcançar a plenitude do que Deus tem para nos oferecer. Paulo deu uma instrução aos coríntios sobre essa atitude. Alguns estavam proibindo a manifestação do dom de línguas. Creio que podemos acolher esta recomendação e não impedirmos o exercício de nenhum outro dom também. Paulo ensina:

"Portanto, irmãos procurem, com zelo, profetizar, e não proibais o falar em línguas." I Coríntios 14 .39

É importante dizer que esses pontos de divergência se referem a questões não essenciais. E por isso não deveriam dividir o povo de Deus. Devemos ser firmes em defender os princípios do fundamento da doutrina de Cristo. Mas no que não é essencial podemos, em amor, ser tolerantes. O mais importante é que devemos entender as implicações de termos à nossa disposição, ferramentas espirituais tão valiosas para o serviço no Reino. E, de alguma forma, poder agradecer a Jesus por tudo que Ele conquistou para nós como resultado do seu grande amor e sacrifício.

A Promessa do Espírito.

Não é possível falar dos dons sem mencionar seu doador, o Espírito Santo. Jesus prometeu que receberíamos outro Consolador. E que este Consolador nos ensinaria todas as coisas e confirmaria tudo quanto ele disse. (João 14:26) A promessa de termos o Espírito Santo no meio de nós foi feita ainda no Antigo Testamento. Lemos em Joel 2:8 uma profecia do Senhor descrevendo o derramamento do Espírito Santo sobre os discípulos no dia de Pentecostes e consequentemente na vida de cada um dos servos Dele. E nesse grupo de servos estamos eu e você. Leiamos:

"E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões." Joel 2.28

Jesus se refere à mesma promessa ao aparecer aos discípulos em Jerusalém:

"E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder." Lucas 24.49

"Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito." João 14.26

Então a promessa se cumpre:

"E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos de comum acordo no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem." Atos 2.1-4


A Respeito dos Dons.

No capítulo 12 de I Coríntios lemos que o apóstolo Paulo demonstra sua preocupação com o que a Igreja em Corinto estava passando em sua experiência com os dons. Os coríntios tinham uma visão errônea sobre os dons e de como usá-los. A Igreja estava cheia de dons, mas por imaturidade dos membros errava no exercício deles. Então o apóstolo Paulo tenta corrigi-los e começa o capítulo 12 dizendo:

"A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes." I Coríntios 12.1

Ele disse ignorantes no contexto de desconhecedores e imaturos quanto aos dons. Pois os erros cometidos pelos discípulos em Corinto demonstravam essa realidade. Os dons são investimentos de Deus em nós. São imerecidos, assim como a salvação. Não são habilidades naturais e sim espirituais. Isso significa que só é possível recebê-los da parte do Senhor. E obviamente não é possível aprender dom algum (adquirir a habilidade sem ser dada por Deus), mas podemos desenvolver nossos dons, aprendendo a ministrar de forma madura e eficiente.
Em I Coríntios 12:7 e Efésios 4:12 aprendemos que o Espírito Santo distribui os dons como lhe convém e para um fim proveitoso que é o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério e a edificação do corpo de Cristo, que é a Igreja.

"Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para um fim proveitoso." I Coríntios 12.7

"Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo." Efésios 4.12

Certos dons podem ser confundidos com características do caráter humano. Características como misericórdia, prontidão em socorrer e fé são exemplos de características que podem ser manifestadas por qualquer pessoa, independente de ser crente ou não. Só precisamos entender que os dons de misericórdia, socorros e fé não correspondem a essas características do caráter humano, pois, quem possui os respectivos dons, pode ir muito além do que qualquer esforço humano pode levar. Estas características, que são do caráter de Jesus refletidas na criação, devem estar presentes e abundar em nós. Mas ter essas características não significa que temos os referidos dons. É preciso, por exemplo, ter fé para aceitar a Jesus e crer em Deus para a salvação, mas o dom da fé é uma manifestação extraordinária de fé e esperança no coração da pessoa que possui este dom recebido depois da conversão. Outro ponto importante é o de não adotarmos uma postura medíocre em relação à nossa espiritualidade e vida com o Senhor por não termos um determinado dom. Por exemplo, não podemos dizer que não temos uma vida de oração constante por que não termos o dom de intercessão.

Os Erros dos Coríntios.

Os discípulos da Igreja em Corinto erravam em muitos aspectos. E esses erros estavam relacionados a orgulho, exibicionismo, e outros deslizes que demonstram que eles não compreenderam muito bem o propósito de terem recebido seus dons. Quanto aos erros podemos destacar:

1-Partidarismo, pois se gabavam e se diziam serem de Paulo, Apolo, Cefas.
2-Menosprezo de alguns dons, que visivelmente podem parecer menos importantes para a Igreja e consequente segregação dos irmãos possuidores destes dons, uma conduta totalmente contrária a Palavra:

"E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários." I Corintios12.21-22

3-Eram indisciplinados a ponto de atrapalharem a ordem dos cultos. Pois quando a Igreja se reunia, era comum ocorrerem confusões, pois, alguns discípulos queriam exibir seus dons ao mesmo tempo que outros. Perdendo o foco que era a edificação da congregação local. Portanto, esse comportamento reflete a imaturidade espiritual daqueles discípulos. Estavam cheios de dons, mas sem entendimento para discernir o que tinham em mãos. Por causa da imaturidade e da visão errônea a respeito dos dons a congregação local deixava de experimentar a totalidade da vontade de Deus. Então o apóstolo Paulo os repreendeu severamente dizendo que, por isso, infelizmente eles não poderiam receber da parte dele ensino sólido do qual ele desejava compartilhar com eles. Por isso ele disse:

"Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis, Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?" I Coríntios 3.2-3

É importante destacar essa atitude de Paulo, pois ele se mostrou maravilhosamente criterioso. Ele não podia simplesmente enchê-los de mais conhecimento bíblico/teológico sem que fossem capazes de discernir a identidade deles no Reino e suas atribuições como servos de Deus.
A verdade era que eles não praticavam nem mesmo instruções mais elementares do evangelho.

O Exercício dos Dons.

Todos os dons, sem exceção, são contemporâneos e podem ser exercitados nos dias de hoje. O Espírito Santo não deixou de distribuir nenhum dom que ele tenha distribuído anteriormente. Sabemos que os dons cumprem o propósito de edificar a Igreja de Jesus e que ela ainda permanece nesse mundo, logo, todos os dons ainda são distribuídos a nós. Os dons são indispensáveis para o funcionamento sadio da igreja. É pela interação dos membros da Igreja e seus dons que podemos ser ministrados por Deus. Temos o privilégio de sermos usados por Deus para abençoar pessoas a nossa volta. Podemos abençoar com nossas palavras, com nosso tempo, com nossos recursos e dons. Podemos operar os dons tanto no meio da Igreja quanto junto aos não crentes. Quando operados para abençoar um irmão edificamos o Corpo, mas quando operados junto aos não crentes os dons têm a finalidade de testemunhar a veracidade do evangelho e a ressurreição de Jesus. Podemos atestar isso em Atos 2:6-8 quando lemos que no dia de pentecostes os irmãos que falavam em línguas de outras nações, sem saberem, publicavam as verdades do Reino aos gentios que estavam na cidade de Jerusalém. Em seguida Pedro, cheio do Espírito Santo, expôs a eles a obra de Jesus pelo mundo, ministrando uma pregação que tocou nos corações de três mil pessoas, que em seguida se converteram.
A Bíblia ensina que há diversidade de dons, ministérios e operações, mas o Espírito é quem opera tudo em todos. Tomando um exemplo, temos que um irmão que tem o Dom de Ensino pode servir tanto nos ministérios com EBD e/ou Grupo de Comunhão e operar este dom como professor de EBD e/ou facilitador de pequeno grupo. Os dons, ministérios e operações são diversos, mas o Espírito é o mesmo. Capacitados então com nossos dons, depende somente de nós sermos ou não usados por Deus. Pois mesmo tendo dons e estando capacitados para servir, ainda assim devemos nos manter livres de qualquer impureza/pecado e nos consagrar ao Senhor. Buscando constantemente sua presença. Além de estarmos disponíveis para servir em todo tempo e em todo lugar. Precisamos ser zelosos com os dons que recebemos (Tito 2:14).

A Importância do Amor.

Não há dúvida que devemos oficiar os nossos dons com amor. O amor nos conduz a entregar o melhor de nós e do que Deus nos tem dado para abençoar pessoas. Quem oficia seus dons com amor, serve de canal de benção para a pessoa ministrada. Deus nos utiliza como meio para tocar e abençoar vidas, seja com uma palavra, um abraço, tempo para ouvir. Mas infelizmente alguns prostituem o dom e a unção que receberam em proveito próprio. Para exibicionismo e “jactância” – orgulho e disputa como os coríntios faziam. Ou oficiando o dom sem amor e dedicação. Somos totalmente responsáveis pela utilização ou não dos dons que o Senhor tem nos dado. É maravilhoso quando buscamos conhecer sobre nossos dons e como oficiá-los da melhor forma possível. É ainda melhor poder ver o que Deus pode fazer por uma pessoa, através dos nossos dons ministrados com amor.

"Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja." I Coríntios 14:12

Conclusão.

É saudável desejarmos ministrar pessoas com nossos dons espirituais. Assim como é saudável sentir a satisfação de ser usado por Deus, vendo o resultado do que Ele pode fazer através de nós. Por isso vale a pena nos consagrarmos, nos mantendo de pé diante do Senhor. Livres do pecado e prontos para servi-lo. Uma igreja equilibrada é aquela que entende a contemporaneidade de todos os dons e a necessidade do seu exercício. Seja pelo auxílio espiritual, emocional ou material. Prossigamos em servir ao Senhor com tudo o que temos e somos. Para que Jesus seja glorificado e receba os frutos do seu sacrifício.

Por: Willian Silva de Oliveira

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